terça-feira, 12 de janeiro de 2016

As inspirações de David Bowie na moda


Que jeito estanho de acordar. Uma mensagem pulando no WhatsApp: Bowie morreu. Ela, antes de se desesperar, pensou, calma, é só um sonho. Tem sonhado muito com o Bowie desde o início do ano.
Mas o telefone toca. O toque: Ground Control to Major Tom\ Ground Control to Major Tom\Take your protein pills and put your helmet on. 
Era a amiga. Bowie morreu mesmo. Como assim? Morreu. As duas choraram no celular. Que jeito estúpido de começar o dia. Luciana não quer sair da cama. Quer ligar para o trabalho e dizer que hoje não. Que tem que respeitar, que morreu o artista que ela mais amava, o seu melhor amigo imaginário, o Bowie.
Mas não podia. Seria um dia de merda. Era uma segunda-feira sem David Bowie. Foi pra baixo do chuveiro e chorou. Cantou baixinho Let’s Dance pra ver se alguma coisa acontecia. Let’s dance\Put on your red shoes and dance the blues\Let’s dance\To the song they’re playin’ on the radio…
Pintou um raio no rosto e foi pra vida. O porteiro olhou espantado. O moço da banca de jornal. A tiazinha da padaria. Carnaval antecipado? Não. Bowie morreu. E nenhum puto daquela vizinhança de merda demostrava o mínimo respeito. Imaginou ouvir em um carro que passava alguém cantando Ch-ch-ch-ch-Changes\ (Turn and face the strange)\Ch-ch-Changes\Don’t wanna be a richer man.
Foi para o ponto de ônibus e esperou.  Esperou.
Um carro buzinou pra ela. Algum conhecido? Luciana se aproximou. Era David Bowie quem dirigia. “Sobe”, disse. 
Luciana entrou. Bowie pediu para que ela colocasse o cinto de segurança e arrancou. Não era o melhor motorista do mundo, mas estava se divertindo. 
Luciana tremia. Não sabia o que dizer. Bowie perguntou o que ela tinha achado do último disco dele. Luciana só conseguiu dizer “great”. 
Bowie ligou o rádio e tocava Look up here, i’m in heaven\I’ve got scars that can’t be seen\I’ve got drama, can’t be stolen\Everybody Knows me now. Bowie cantou junto. Só pra ela.  
Da janela do carro, Luciana viu São Paulo, Londres, Paris e Berlim.
Pararam para um café em Marte. 
Antes do Capuccino chegar, ela perguntou: “Por quê?”
Bowie sorriu e não respondeu. O Capuccino chegou. Foi ele quem perguntou da vida dela. “Como estão as coisas?”. Ela falou do trabalho. Da pressão de ser uma estagiária em um escritório de advocacia. Do namoro que ia mal e das investidas do chefe. Luciana falou também que tinha engordado um pouco, que estava tentando controlar os doces e que tinha planos de entrar em um vestido lindo que acabou de comprar. Luciana falou dos seus planos de viajem, da vontade de conhecer a Escôcia, de um sorvete de creme que tinha tomado na Itália. Luciana falou do irmão mais novo, dos problemas que ele tinha na escola, da reação que o menino teve a primeira vez que viu uma foto do Bowie.
Os dois riram. 
Na mesa do lado, Mickey Mouse crescia e virava uma vaca. Do outo lado da rua, um oficial de justiça espancava o cara errado.
Bowie pediu a conta. Não deixou que ela pagasse. Gentil, prometeu deixá-la no trabalho. 
***
Quando acordou no ônibus, todos os passageiros tinham o mesmo raio pintado no rosto. O mundo nunca vai perder David Bowie.
(Divulgação)       
David Bowie foi mais do que um músico e compositor. Ele tinha o poder da imagem e usava roupas que ajudavam a transmitir a mensagem de que você pode ser quem você quiser. Camaleão, ele se vestia e acompanhava com seus figurinos as mudanças no comportamento e na música através das décadas. Não é a toa que milhares de estilistas o citaram como inspiração. Ele tinha o poder de resumir bem a androginia, a diversidade cultural e o glam rock. O cantor britânico morreu neste último domingo, após 18 meses de luta contra o câncer, mas a diferença que ele fez no mundo será eterna.
Nos anos 70, os looks usados por Bowie nos palcos causavam controvérsia. Ele provava que qualquer coisa é apropriada para qualquer sexo. 
Campanha de 2015 da coleção masculina da Burberry  A marca Burberry, por exemplo, é uma das que dão importância a questão da unidade de gêneros. O estilista da grife, Christopher Bailey, com certeza foi influenciado positivamente por Bowie. No último desfile da marca, que aconteceu segunda-feira, eles prestaram uma homenagem ao músico. 
O estilista Jean Paul Gaultier se inspirou totalmente no cantor britânico durante sua coleção de primavera-verão de 2013. Ele trouxe uma releitura de Ziggy Stardust, persona criada por David Bowie em 1972. Foto: Getty images/ Reprodução 

Bowie usou esse tapa-olho que virou mais um símbolo do glam rock. E o visual pirata, assim como o raio, serviu de inspiração para diversos editoriais de moda, como esse da Vogue Russia em 2013.
O desfile de Saint Laurent de primavera/verão 2015 trouxe todo esse estilo e irreverência do glam rock. 
Os icônicos e chamativos macacões do cantor.  Foto: Reprodução 
Macacão glam totalmente inspirado em Bowie no desfile de Pam Hogg, em 2009.  Foto: Divulgação 
David Bowie com estilo que prioriraza camisas e alfaiataria. Foto: Reprodução 
Em 2010, a modelo norueguesa Iselin Steiro encarna o artista no editorial “Androgyne”, que tem fotos de Davis Sims e styling de Emmanuelle Alt. Foto: Reprodução 
Quando a Givenchy trouxe essa releitura do blazer listrado de Bowie para a passarela e campanhas de verão 2010. 
O estilista Raf Simons homenageou David Bowie com uma coleção inteira no verão 2015 de alta-costura da Dior. “Ele é um camaleão, capaz de se reinventar. Mais do que um homem, ele é uma ideia”, afirmou o estilista.  Foto: Reprodução 
No final da década de 70, Bowie adotou um estilo mais minimalista, destacando ainda mais a ideia de neutralidade de gêneros. Em 2003, a atriz Tilda Swinton foi fotografada por Craig McDean para a Vogue Itália encarnando essa fase do cantor. 
A top Kate Moss estampou a capa da Vogue britânica em 2003 usando o icônico raio da capa de seu álbum Alladin Sane, de 1973, pintado no rosto. 


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